Fabio e Renato não poderiam estar mais radiantes. Juntos desde 2015, eles celebraram o nascimento da primeira filha no último domingo (25), mas se não fosse pela participação da irmã de um deles, esta seria uma história completamente diferente. Isso porque Leticia se ofereceu para ser a barriga solidária a fim de que o casal de influenciadores realizasse o sonho da paternidade.

Nesta quarta-feira (28), Dia do Orgulho LGBTQIA+, Fabio falou à reportagem do Band.com.br sobre como ele e Renato decidiram que gostariam de ser pais, bem como a iniciativa da irmã de presenteá-los com o útero solidário para que a menina Emily fosse gerada.

“Perguntam se tenho medo desse laço com a minha irmã. Eu fico muito tranquilo. Mesmo que eu tivesse útero e a Emily saísse de mim, a minha irmã teria a mesma conexão. E agora esse laço se torna mais especial. Isso me passa uma segurança muito boa. Esse vínculo só veio para somar”, afirma o influenciador.

“Vocês querem ser pais?”

“Começamos a fazer lives e sempre tinha gente que perguntava, vocês querem ser pais? E a gente nunca respondia abertamente porque ainda estávamos na incerteza. Em uma das lives, antes de começar, perguntei ao Renato porque sabia que ia aparecer essa pergunta. E falamos que pensávamos em adotar”.

“Minha irmã estava assistindo a live e eu nunca tinha discutido esse assunto com a minha família. Ela ficou pensando. Umas duas semanas depois, ela chamou a gente pra jantar. (Renato, Fabio, ela e o cunhado). E assim ela ofereceu: ‘se você quiser, eu ofereço o útero solidário para vocês’. Ela já tinha conversado com meu cunhado, que tinha certeza que não queria mais ter filho. E aconteceu. Na hora eu agradeci e falei que não. Nunca tinha passado essa ideia na minha cabeça”.

“Ao final do jantar falei que ia pensar. Renato estava empolgado. Nessa semana [do jantar], eu tinha sonhado que minha irmã estava grávida e foi muito estranho. No sonho, eu tinha consciência que meu cunhado é vasectomizado. E aí veio minha preocupação, como ela está grávida? Acordei com isso na cabeça e comentei com o Renato. No jantar, a minha irmã comentou que também estava sonhando que estava grávida. Daí o Renato lembrou do meu sonho. Fiquei arrepiado”.

Assista ao vídeo do nascimento de Emily

O processo de fertilização

“Conversei com médico sobre útero solidário e os riscos. Um fator determinante eram os riscos que minha irmã poderia ter. O médico me tranquilizou. Saímos da consulta com o sentimento de que dava para realizar. Faltava só comunicar a minha irmã que a gente aceitaria”.

“Minha irmã falou que estava pronta quando quiséssemos. Desde a primeira consulta até a Emily nascer, deu exatamente um ano. Foi muito rápido. Em um mês já fizemos a primeira tentativa e deu certo, mas perdemos porque implantamos um embrião. O embrião se dividiu e seriam gêmeos, mas perdemos. Descansamos um mês e aproveitamos uma viagem com minha irmã e meu cunhado. Fizemos a segunda tentativa e deu certo”.

“Usamos banco de óvulos. Tivemos três opções de doadoras e as três eram amarelas [a família dos dois é de descendência japonesa]. Durante o processo de fertilização, essa preocupação com a genética, de ter o meu DNA ou do Renato, se torna mínima. Muita gente se prende a isso, mas é nossa filha. Não importa se vai ter meu material genético ou do Renato, tanto que a gente não sabe qual foi o material usado para fecundar o óvulo. É desnecessário a gente ter essa informação. A nossa filha não vai ser menos minha ou mais dele e vice-versa. É nossa filha”.

Conexão com a irmã

“A conexão com a minha irmã é muito forte. Ela sempre se preocupou e cuidou muito de mim. Foi o que ela fez agora, dando esse presente para a gente. Renato criou um laço forte com a minha irmã. Para a gente fez muita diferença, mas apoio totalmente o útero solidário sem parentesco. Torço para que no Brasil as coisas evoluam para que mais casais homo masculinos tenham essa possibilidade”.

O parto

“Buscamos uma maternidade que desse abertura, que tivesse uma estrutura para que ficássemos próximos da minha irmã. A comunicação com a maternidade foi ótima, eles entenderam o nosso caso. Queríamos proximidade com a barriga solidária e isso foi muito importante. O nosso parto foi super tranquilo, nos sentimos incluídos. Foi especial”.

“A emoção do nascimento é difícil de descrever. Esse sentimento foi somado à gratidão pela minha irmã, meu cunhado e meu sobrinho. Eles cederam esses 9 meses da vida deles. Mexe muito. Eu imaginava meu sobrinho na escola e falarem, ‘sua mãe está grávida e não é seu irmão?’ ou ‘a sua mãe está grávida do seu tio?’. Minha irmã quer ofertar o leite. Vamos dar a mamadeira, mas a Emily vai tomar o leite materno. Sabemos que isso toma tempo e minha irmã vai se dedicar a isso. Continuamos muito gratos. É um sentimento eterno. Estamos vivendo a nossa paternidade, mas todos da minha família também estão vivendo isso em paralelo”.

Medo do hate?

“Estamos nos preparando para o hate que vamos receber de algumas pessoas. Da nossa família e dos nossos amigos, não sofremos nenhum tipo de discriminação.  Pelo contrário, todos os familiares entraram nessa jornada com a gente, dando suporte e se envolvendo com esse processo.

“Nas redes, sempre tem hate. Quando postamos alguma coisa, como por exemplo eu e Renato nos beijando, alguém deixa de seguir. Perdemos mais seguidores do que perdemos no dia a dia. Estamos acostumados e chamamos de livramento. Isso também aconteceu no ensaio de gestante comigo, Renato e minha irmã mostrando a barriga. De alguma forma, isso agrediu algumas pessoas, que se incomodaram. Perdemos 10 vezes mais seguidores do que perdemos normalmente”.

“Às vezes, rolam comentários desnecessários. Uma seguidora falou, ‘pena que a Emily não terá uma figura materna, espero que a tia represente isso…’ Foi um comentário agressivo. Alguns comentários a gente releva por serem de pessoas com falta de informação”.

“Visualizar facilita a aceitação”

“A gente compartilha a nossa história, não porque queremos atenção, mas porque achamos importante. Do mesmo jeito que a gente cresceu não vendo esse formato de família, é importante eu e Renato possamos usar a nossa visibilidade para atingir as pessoas de um jeito especial, para que se acostumem com esse tipo de situação. Visualizar facilita a aceitação. A gente compartilha para que a próxima geração tenha menos dificuldade, sofra menos preconceito. Que a geração da Emily seja mais acostumada a ter um tio gay, um professor gay… que seja rotineiro, mas só vai acontecer se as pessoas visualizarem isso no dia a dia. Que a Emily cresça em um mundo que aceite muito mais”.

Fonte: Portal Band

 

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